e s c u t a # 3

No passado dia 11 de maio de 2025, a Caixa Negra – Associação Cultural promoveu, em colaboração com o Sintomas Bar, uma tertúlia dedicada à sustentabilidade, justiça alimentar e direitos dos animais. O encontro teve lugar precisamente neste espaço — o icónico bar e hamburgueria localizado em Amares — que, pela sua natureza, poderia parecer contraditório face aos temas em debate. No entanto, foi nesse paradoxo que se abriu espaço para o diálogo e a escuta mútua.

A sessão contou com a presença dos ativistas Noel Santos e Alice Basílio, representantes da Animal Save and Care Portugal e do movimento internacional Plant Based Treaty, que desafiaram a audiência a pensar criticamente os impactos éticos, ambientais e sociais do modelo alimentar dominante. As suas intervenções, tecidas entre dados rigorosos, experiências vividas e apelos à responsabilidade coletiva, revelaram-se acessíveis, generosas e profundamente mobilizadoras.

A tertúlia foi acompanhada por uma seleção de petiscos vegan, delicadamente preparados pelos próprios ativistas — um gesto de coerência ética e de partilha sensível, onde a prática se fez discurso e o cuidado se manifestou no concreto. Entre sabores inesperados, brilharam de forma particular os irresistíveis “rojões” de soja, que conquistaram a curiosidade — e o paladar — dos presentes. Assim, tornou-se evidente que, por vezes, os caminhos para a transformação começam no quotidiano, no prato, no gesto de oferecer — e de escutar.

O cenário inesperado — uma hamburgueria a acolher uma conversa sobre veganismo, justiça ecológica e ética animal — serviu, afinal, como metáfora viva para os desafios do nosso tempo. “A ética não se limita a um ideal distante; começa quando deixamos de considerar os nossos interesses como mais importantes do que os dos outros”, escreveu Peter Singer, pensador de referência na ética contemporânea. Talvez seja precisamente no seio do paradoxo que germinem os primeiros sinais de transformação.

Este evento inscreve-se no desejo da Caixa Negra de cultivar espaços de escuta entre o pensamento crítico e a cidadania, contribuindo para a construção de uma cultura mais justa, consciente e dialogante no território de Amares.